A história de origem de Stevie Nicks e Lindsey Buckingham

Escrito em 18/09/2025
Rob Sheffield

Uma aguardada reedição do álbum de estreia de 1973 de Stevie Nicks e Lindsey Buckingham, 'Buckingham Nicks', nos leva de volta ao início do romance mais disfuncional do rock & roll

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Stevie Nicks e Lindsey Buckingham

Quando Stevie Nicks e Lindsey Buckingham lançaram Buckingham Nicks, em 1973, eles eram apenas dois desconhecidos. Dois hippies perdidos em Los Angeles, gravando um disco de folk-rock fora de moda. Ninguém comprou. Ninguém se importou. Alguns talvez tenham visto como uma estreia promissora, outros como um fracasso. Mas é seguro dizer que ninguém ouviu e pensou: “Esses dois não são apenas alguns dos maiores compositores do planeta, este é um álbum sobre o qual eles vão continuar discutindo pelos próximos 50 anos!”

Mas, nesse ponto — como em todos os outros —, o mundo subestimou a quantidade de drama que os dois carregavam. Buckingham Nicks conquistou seu lugar na história como a origem do romance mais disfuncional do rock & roll. O casal gravou o disco antes de entrar para o Fleetwood Mac — antes da fama, antes dos xales, antes das drogas, antes de alguém imaginar quanta tortura requintada eles arrastariam para nossas vidas para sempre. É a Balada de Stevie e Lindsey, nos primeiros dias, quando nem precisavam de mais três malucos na banda para criar um caos emocional cósmico.

Depois que entraram para o Fleetwood Mac e criaram clássicos como Rumours, Buckingham Nicks virou apenas uma nota de rodapé na história deles. Durante décadas, foi um item raro para colecionadores, uma joia perdida que nunca saiu em CD. A maioria dos fãs nunca chegou a ouvi-lo. Mas agora ele retorna, enfim, nesta aguardada reedição. Sem hits, sem faixas-bônus — apenas um disco americano encantador. Dá para ouvir esses dois pombinhos aprendendo o ofício, sozinhos, em meio ao mato alto, tocando para impressionar apenas um ao outro.

Por anos, parecia loucura esperar que essa reedição acontecesse. Eles passaram décadas prometendo, desmentindo, brigando em público. Mas a longa história de amor e ódio dos ex-namorados explodiu de vez em 2019, quando a banda expulsou Lindsey. (Que outro grupo consegue terminar um relacionamento no palco enquanto recebe um prêmio humanitário do MusiCares? Só eles.) Parecia definitivo, especialmente após a morte trágica de Christine McVie.

Por isso foi chocante, neste verão, ver mensagens idênticas de Stevie e Lindsey nas redes sociais, provocando o projeto. Eles postaram trechos de “Frozen Love” — o primeiro movimento conjunto em anos. Por um lado, todos sabemos que veteranos do rock não cuidam pessoalmente de suas redes, certo? Mas, por outro, também sabemos que ninguém fala por Stevie sem a aprovação dela. Ela apareceria de moletom em público antes de deixar sua equipe postar algo sobre Lindsey, o “Sr. Rulers Make Bad Lovers”. Parece que os dois nos puxaram de volta para sua música, sua loucura, sua saga gloriosa — como sempre.

Essa química musical fica evidente em Buckingham Nicks. “Escrevemos um sobre o outro, continuamos escrevendo um sobre o outro e provavelmente continuaremos até morrer”, disse Nicks à Rolling Stone em 2014. “É isso que sempre fomos um para o outro. Juntos, passamos por grande sucesso, grandes desentendimentos, uma grande conexão musical.” Ouvindo agora, dá para perceber que eles já sabiam o que estavam fazendo. Lindsey é um californiano que aprendeu truques com Brian Wilson — adepto de composições verso-refrão-verso, nada de jams desleixadas. Stevie mostra seu lado cowgirl — eles dedicaram o álbum ao avô dela, A.J. Nicks, que a apresentou à música country quando era criança.

Eles escreveram as músicas em Los Angeles, após se mudarem de San Francisco — ela trabalhava como garçonete à noite, enquanto ele ficava no sofá, fumando haxixe e tocando violão. Eles se conheceram em 1965, em uma festa de adolescentes, quando ele dedilhava “California Dreamin’”, do Mamas and the Papas. Ela se aproximou e começou a cantar junto. “Só encaixei a minha harmonia da Michelle Phillips”, ela lembra. “Ele era tão bonito.” Considerando todos os desastres sexuais/químicos do Mamas and the Papas, essa pode parecer uma maneira sinistra de se conhecer — mas Lindsey e Stevie acabaram fazendo Michelle e John Phillips parecerem amadores em matéria de pesadelo californiano.

Crystal” é o que mais chega a ser conhecido em Buckingham Nicks — eles a regravaram no álbum homônimo do Fleetwood Mac, em 1975, um pouco ofuscada por outras duas composições de Nicks (“Rhiannon” e “Landslide”). Há a instrumental de violão “Stephanie”, o standard de jazz “Django” e o épico de sete minutos “Frozen Love”, uma das poucas colaborações oficiais desses poetas atormentados. O amigo Waddy Wachtel toca guitarra, ao lado de veteranos como Jim Keltner e Jerry Scheff. O irmão de Waddy, Jimmy, fez a foto da capa, mostrando o casal hippie no Jardim do Éden — antes de a camisa ser inventada. (Ele depois assinaria capas clássicas como The River, de Bruce Springsteen.)

O resultado foi um fracasso comercial completo, que ninguém notou — exceto Mick Fleetwood, que reconheceu a grandeza quando a ouviu. Em 1973, Fleetwood Mac era apenas uma banda inglesa de blues em decadência, bem longe dos dias de glória com o guitarrista Peter Green. Quando Mick ouviu o álbum, através do produtor Keith Olsen, pensou em contratar Lindsey para dar um toque de sol californiano ao grupo.

Mas Lindsey precisava complicar — sua especialidade. Recusou-se a entrar a menos que levassem também sua namorada, mesmo que a banda já tivesse uma cantora-compositora. Por mais que falem mal de Lindsey, é preciso aplaudir esse gesto de lealdade — ele estava disposto a arriscar toda a carreira para não deixar Stevie para trás. Mick poderia ter rido na cara dele — quem esse moleque achava que era, jogando duro com veteranos do rock? Mas decidiu ceder e contratar os dois. Foi uma das poucas decisões realmente sensatas que Mick Fleetwood já tomou.

Como todo mundo sabe, o casal levou o Mac ao estrelato com clássicos sobre terminar, reatar, arrumar as malas, se juntar e causar sofrimento interminável um ao outro — e ao resto de nós. Rumours fica cada vez mais famoso, como conta o excelente livro Don’t Stop, de Alan Light. Enquanto isso, Buckingham Nicks foi esquecido pela história. Na icônica entrevista “ele-disse-ela-disse” de 2012 para a Rolling Stone, eles se contradisseram totalmente sobre uma reedição. “No ano que vem é o 40º aniversário de Buckingham Nicks”, disse Stevie. “E esperamos lançar o disco.” Ela sugeriu até uma turnê Buckingham Nicks, chamando de “um presente brilhante e especial”.

Mas, para esses dois, os brilhos só acontecem quando a casa está pegando fogo, e eles não conseguiram se alinhar a tempo para o 40º ou mesmo o 50º aniversário. Como lamentou Lindsey, isso “nos torna o anti-Eagles, no sentido de nunca, jamais estarmos na mesma página”. Ainda assim, há algo poeticamente perfeito em reviver o álbum em seu 52º aniversário — um número redondo seria um movimento de negócios adulto e pragmático, e que graça teria? Ter essas músicas de volta ao mundo é um acontecimento histórico a ser celebrado. Ouvindo Buckingham Nicks em 2025, dá para sentir toda a química explosiva, mesmo nos dias jovens e inocentes. E entender por que eles passaram as últimas cinco décadas tornando a vida dos fãs — e a deles próprios — muito mais bagunçada. Sem dúvida, todos levaríamos vidas mais pacíficas, civilizadas e emocionalmente estáveis se esse álbum nunca tivesse existido. Mas é exatamente por isso que devemos agradecer por ele existir.

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