Kimmel foi retirado do ar pela ABC e Nexstar após uma ameaça do presidente da Comissão Federal de Comunicações de Donald Trump. 'Eles temiam isso o dia todo', conta uma fonte da ABC.
O post Programa ‘Jimmy Kimmel Live!’ cancelado ‘indefinidamente’ pela ABC após comentários sobre Charlie Kirk apareceu primeiro em Rolling Stone Brasil.
Jimmy Kimmel é mais um apresentador de programa noturno a ser retirado do ar de uma grande emissora após fazer comentários sobre o assassinato do ativista conservador Charlie Kirk, em meio à pressão do governo Donald Trump.
“O Jimmy Kimmel Live! será suspenso por tempo indeterminado”, informou um porta-voz da ABC à revista Rolling Stone na quarta-feira, sem especificar os motivos da decisão.
A notícia veio logo após a Nexstar retirar o programa de suas emissoras nos Estados Unidos.
“As emissoras próprias e parceiras da Nexstar afiliadas à Rede ABC Television irão suspender o Jimmy Kimmel Live! por tempo indeterminado, começando já com o programa desta noite”, anunciou a empresa. “A Nexstar repudia veementemente os comentários recentes do Sr. Kimmel sobre a morte de Charlie Kirk e substituirá o programa por outras atrações em seus mercados afiliados à ABC“.
Andrew Alford, presidente da divisão de radiodifusão da Nexstar, classificou as declarações de Kimmel como “ofensivas e inadequadas em um momento tão delicado do nosso debate político nacional”.
“Continuar oferecendo uma plataforma de transmissão ao Sr. Kimmel nas comunidades que atendemos simplesmente não atende ao interesse público neste momento”, declarou Alford, completando: “Tomamos a difícil decisão de suspender seu programa na esperança de que os ânimos se acalmem e possamos retomar um diálogo respeitoso e construtivo”.
No monólogo de segunda-feira, Kimmel havia criticado conservadores por tentarem “tirar proveito político” do assassinato de Kirk. Segundo o comediante, eles passaram o fim de semana culpando genericamente a esquerda – e especificamente pessoas trans – pelo tiroteio, mesmo antes de qualquer informação sobre as motivações do atirador vir à tona.
“Chegamos a novos patamares de baixeza no fim de semana, com a turma do MAGA se esforçando desesperadamente para caracterizar o jovem que matou Charlie Kirk como qualquer coisa, menos um dos seus, fazendo de tudo para transformar isso em palanque político”, disse Kimmel em seu programa.
A Fox News interpretou essas declarações como se Kimmel tivesse sugerido que o “atirador de Kirk fazia parte da turma MAGA“, embora não tenha sido exatamente isso que ele quis dizer.
Na manhã de quarta-feira, Brendan Carr, presidente da Comissão Federal de Comunicações (FCC) indicado por Trump, fez um apelo público para que as emissoras licenciadas parassem de exibir o programa de Kimmel.
“Acho que já passou da hora dessas emissoras licenciadas confrontarem a Comcast e a Disney e dizerem: ‘Olhem, vamos suspender a exibição do Kimmel até vocês resolverem essa situação, porque nós, como emissora licenciada, corremos o risco de multas ou até perda da licença pela FCC se continuarmos transmitindo conteúdo que configura distorção sistemática de informações'”, declarou Carr durante entrevista ao podcaster conservador Benny Johnson.
“Podemos resolver isso pela via fácil ou pela difícil”, ameaçou Carr. “Essas empresas podem encontrar formas de mudar de postura e tomar providências em relação ao Kimmel, ou a FCC terá muito trabalho pela frente”.
A decisão da Nexstar e da ABC de silenciar Kimmel por comentários relativamente inofensivos revela o quanto as grandes corporações e empresas de mídia estão aterrorizadas com o segundo mandato de Trump. O presidente e seus aliados deixaram claro que não hesitarão em usar todo o poder do governo federal contra redes de TV e suas controladoras, especialmente quando apresentadores ou comediantes dizem algo que desagrada Trump.
Nas horas que antecederam a decisão de tirar Kimmel do ar, duas fontes próximas ao caso relatam que executivos da ABC, de sua controladora Disney e das afiliadas se reuniram em caráter de emergência para tentar minimizar os estragos. Vários executivos acreditavam que Kimmel não havia cruzado nenhuma linha vermelha, segundo essas fontes, mas a ameaça de retaliação do governo Trump pairava no ar.
“Eles ficaram em pânico o dia inteiro”, conta um funcionário da ABC à Rolling Stone.
Ainda antes de vencer as eleições de 2024, Trump e seus principais assessores já haviam elaborado planos para usar a FCC e outros órgãos federais poderosos para punir comediantes de programas noturnos que o presidente detesta há anos.
No final do ano passado, quando Trump se preparava para retomar a presidência, a ABC News aceitou pagar 15 milhões de dólares para encerrar um processo movido por ele. A ação judicial, vista por muitos como sem grandes chances de sucesso, questionava declarações do âncora George Stephanopoulos sobre Trump ter sido considerado culpado de “estupro”. Na verdade, Trump foi considerado culpado de “abuso sexual”.
Para encerrar o processo, a ABC News concordou em destinar milhões de dólares à fundação da biblioteca presidencial de Trump. A medida já preocupava os funcionários da empresa na época e sinalizava uma tendência muito maior: grandes corporações se alinhando para resolver processos de Trump através de pagamentos milionários ao fundo de sua biblioteca.
A exigência de Carr para que emissoras licenciadas se recusem a transmitir o programa de Kimmel (e o rápido acatamento da Nexstar) acontece justamente quando a empresa busca aprovação da FCC para uma fusão corporativa.
A Nexstar já é a maior proprietária de estações de TV dos Estados Unidos, e sua fusão de 6,2 bilhões de dólares com a Tegna a tornaria ainda maior.
Na semana passada, Kimmel, conhecido crítico do governo Trump, havia pedido à sua audiência para reagir com empatia após a morte de Kirk. “Em vez de ficarmos apontando dedos com raiva, será que podemos pelo menos por um dia concordar que é terrível e monstruoso atirar em outro ser humano?”, escreveu no Instagram em 10 de setembro. “Em nome da minha família, enviamos amor aos Kirk e a todas as crianças, pais e inocentes que são vítimas dessa violência armada sem sentido”.
Este artigo foi originalmente publicado pela Rolling Stone EUA, por Charisma Madarang, Asawin Suebsaeng e Andrew Perez, no dia 17 de setembro de 2025, e pode ser conferido aqui.
+++ LEIA MAIS: ‘The Late Show with Stephen Colbert’ chegará ao fim em 2026
+++ LEIA MAIS: Trump diz que Kimmel e Fallon serão ‘os próximos’ após saída de Colbert
+++ LEIA MAIS: David Letterman critica saída de Stephen Colbert: ‘Covardia pura’
O post Programa ‘Jimmy Kimmel Live!’ cancelado ‘indefinidamente’ pela ABC após comentários sobre Charlie Kirk apareceu primeiro em Rolling Stone Brasil.