Como The Who deu à revolução um hino em ‘My Generation’

Escrito em 03/12/2025
Pedro Hollanda

Banda estourou fazendo derivação de outra mais famosa na época — e acabou se tornando símbolo eterno da rebeldia juvenil

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The Who em 1965 (E-D): Keith Moon, Pete Townshend, John Entwhistle e Roger Daltrey (Foto: Cyrus Andrews / Michael Ochs Archives / Getty Images)

O meio da década de 1960 pertencia aos Beatles e Rolling Stones. As duas bandas eram as maiores do Reino Unido, mas havia uma terceira força: The Kinks. O grupo liderado pelos irmãos Ray e Dave Davies havia estourado nos Estados Unidos com “You Really Got Me”, um petardo que muitos chamariam anos mais tarde da primeira música punk. 

Enquanto isso, The Who era um conjunto mod de Londres que conseguiu capturar a atenção do produtor do The Kinks, Shel Talmy, com uma composição feita justamente para soar semelhante à da banda dos irmãos Davies. “I Can’t Explain” foi um sucesso no Reino Unido e estabeleceu o grupo formado por Roger Daltrey (voz), Pete Townshend (guitarra), John Entwistle (baixo) e Keith Moon (bateria) como nomes a se acompanhar.

Entretanto, Townshend tinha uma vontade de ir além de ser cópia descarada do The Kinks. O segundo single lançado sob o nome The Who, “Anyway, Anyhow, Anywhere”, continha um dos primeiros usos registrados de feedback como recurso musical. O compacto chegou ao Top 10 britânico, tal qual “I Can’t Explain”, e firmou a banda como uma entidade própria.

Quando chegou o momento de gravar seu primeiro álbum, o grupo resolveu ir ainda mais adiante. Enquanto outros conjuntos da época, especialmente aqueles saídos da cena mod, se contentavam em apenas regravar canções de R&B americanas, The Who queria mostrar sua capacidade como compositores, além dos singles. Ainda assim, precisavam de uma canção para vender essa ambição às massas.

Pete Townshend tinha um automóvel, um modelo Packard de 1935 normalmente usado para transportar caixões. Supostamente, a Rainha Mãe do Reino Unido via o veículo enquanto dirigia pelo bairro de Belgravia, em Londres, e ficou tão ofendida com a ideia de estacionarem um carro funerário na rua que mandou rebocarem. O guitarrista do The Who interpretou isso como símbolo do conflito geracional, e se inspirou para escrever a canção mais famosa da banda.

“My Generation” tem 60 anos de idade e ainda soa urgente. Os gaguejos improvisados de Roger Daltrey, o solo de baixo de John Entwistle – quebrando a noção tradicional de qual instrumento merece holofote em uma música pop –, tudo aumenta o conteúdo da letra, que brada contra o tratamento da sociedade para com os jovens. Quando saiu, em outubro de 1965, se tornou imediatamente um hino no Reino Unido.

O álbum no qual saiu, My Generation (1965), expandia em cima desses temas. Townshend compôs 8 das 12 faixas do disco disponibilizado em 3 de dezembro de 1965, explorando nas letras desde a rebeldia juvenil da faixa título e “The Kids Are Alright”, divórcio em “A Legal Matter” e questões de identidade em “La-La-Lies”

A influência do R&B americano era presente na música e na escolha de covers: “Please, Please, Please” e “I Don’t Mind”, de James Brown, e “I’m A Man”, clássico de Bo Diddley. O guitarrista depois viria a brincar com o título dessa faixa no single “I’m A Boy”, cuja letra lida com questões de identidade de gênero.

Apesar da banda historicamente não ser muito fã de My Generation, o álbum ajudou a estabelecer a identidade do grupo para algo bem além de copiadores do The Kinks. Eles se tornaram líderes eternos do movimento da juventude.

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