Adaptação de Stephen King traz um grupo de adolescentes competindo em uma caminhada pela própria vida
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Se existe algo que torna a ficção de Stephen King duradoura é sua capacidade de dialogar com o presente, mesmo décadas depois de escrita. É o caso de A Longa Marcha: Caminhe ou Morra, adaptação do romance distópico publicado em 1979 sob o pseudônimo Richard Bachman. O filme chega num momento em que regimes autoritários e formas de opressão voltam a se fortalecer ao redor do mundo, o que acentua a atualidade de uma história sobre obediência cega, sacrifício e resistência.
Na trama, cem adolescentes participam de uma competição mortal organizada por um governo totalitário. Eles devem caminhar sem parar, mantendo velocidade mínima. Três advertências significam a eliminação, e apenas o último sobrevivente recebe como prêmio um desejo concedido pelo regime. O protagonista Ray Garraty (Cooper Hoffman, Licorice Pizza) segue a marcha ao lado de companheiros igualmente exaustos e assustados, enfrentando não apenas o desgaste físico, mas também dilemas éticos e psicológicos.
Mais do que um espetáculo de sobrevivência, o filme de Francis Lawrence — diretor acostumado a distopias: Eu Sou a Lenda, quatro dos filmes de Jogos Vorazes e Operação Red Sparrow são algumas de sua filmografia — funciona como alegoria do controle social. A disciplina forçada e a constante ameaça da morte expõem como sistemas autoritários manipulam medo e sacrifício para perpetuar poder. Esse subtexto político ressoa de maneira direta com o presente, reforçando a força da obra de King.
O elenco é decisivo para transformar a distopia em drama humano. Mark Hamill (Star Wars) vive o Major, figura símbolo desse totalitarismo opressor. Hoffman e David Jonsson (Alien: Romulus) conduzem a narrativa com intensidade, construindo uma relação marcada pela cumplicidade em meio ao desespero. Há ecos de buddy movie e até de bromance, já que a amizade que nasce na estrada é o que dá fôlego ao público e aos personagens. Mesmo os coadjuvantes têm presença marcante, o que faz com que cada morte seja sentida como perda real.
O roteiro de JT Mollner (Desconhecidos) consegue equilibrar tensão com momentos de introspecção, aproximando o espectador da dor e da perseverança dos jovens. Se a narrativa peca por certa previsibilidade, isso não diminui o impacto da jornada. Ao final, A Longa Marcha: Caminhe ou Morra confirma que, mesmo em meio à opressão e à crueldade, o que realmente importa é a jornada e os vínculos que se formam ao longo do caminho.
Brutal e emocionante, o filme mostra que coragem, solidariedade e esperança podem resistir aos sistemas mais implacáveis, transformando a história de Stephen King em um retrato profundo da condição humana e do poder da amizade em tempos de crise — um lembrete de que, muitas vezes, a arte cumpre exatamente esse papel.
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