Primeiro volume do projeto chega nesta sexta-feira, 12, com participações do baterista do System of a Down, Criolo, Ra Díaz (Korn), entre outros
O post MC Lan fala à RS sobre seu álbum rock ‘V3NOM’, origens musicais e John Dolmayan apareceu primeiro em Rolling Stone Brasil.
Ao longo do último ano, independentemente do momento em que se acessasse o perfil de MC Lan no Instagram, o teor dos comentários era sempre o mesmo: cadê V3NOM? O álbum orientado ao rock foi anunciado pelo funkeiro ainda em 2024, ano em que também participou de um show do Bring Me the Horizon no Allianz Parque, em São Paulo. Soube-se, a partir daí, que o projeto teria participação de John Dolmayan, baterista do System of a Down. Depois disso, nada. Silêncio.
A espera chegou ao fim nesta sexta-feira, 12, pois está disponível nas plataformas de streaming o primeiro dos três volumes de V3NOM, de nome Eclipse. Em onze faixas, o artista de nome real Caio Alexandre Cruz explora não apenas diferentes ramificações do rock e metal alternativo — hardcore, nu metal, garage rock etc — como, também, trap e eletrônico. O funk que consagrou a voz de “Rabetão” e “Open the Tcheka” surge, se muito, em salpicadas discretas.
Chamam atenção, ainda, as referências à própria obra de Lan e de outros artistas. “Oz”, por exemplo, cita diretamente “Technologic”, do Daft Punk, enquanto “Highway” traz, em seu miolo, uma batida que remete — mas não é igual — a “When the Levee Breaks”, do Led Zeppelin. Versos dos funks “Rabetão” e “Sua Amiga Eu Vou Pegar” são citados em “Darth Vader” e “Evil Londres”, respectivamente.
Não é um disco 100% rock, ao menos sonoramente. E talvez isso tenha ajudado a tornar o resultado mais autêntico.
Em entrevista à Rolling Stone Brasil, Lan conta que V3NOM nasceu “de um processo muito interno e intenso”. “É um recomeço de carreira — do zero, mas não estando no zero. Um renascimento. Serviu como uma terapia mais eficiente do que qualquer sala de psicólogo que eu tenha participado”, diz ele, antes de explicar a mudança que o fez demorar tanto para lançar o álbum:
“[Atrasou porque] Mudei o projeto inteiro. No início, seria de trap. Não quer dizer que em algum momento eu não vá lançar um projeto de trap, mas nas minhas andanças, percebi que era aquilo [rock] que queria mostrar. Amo rock. Amo música dos anos 1960, 70 e 80. Amo a energia trazida por tantas bandas… só quis refazer da maneira como sou de fato. Também passei por alguns problemas no meio do caminho — alguns artistas brasileiros que queriam participar, participaram, mas no final já não queriam mais participar, estavam em outro foco de carreira.”
De acordo com Lan, o desejo de transformar V3NOM em um projeto 100% rock veio após a citada participação no show do Bring Me the Horizon, em novembro do ano passado. Na ocasião, cantou “Antivist” ao lado da banda e de outro convidado: Di Ferrero, vocalista do NX Zero. Ele relembra:
“Depois que desci do palco, minha esposa, que é minha diretora criativa dentro do projeto, falou: ‘Você é isso. Seu olho brilhou lá em cima. Lá em cima eu não vi o MC Lan, mas o Caio por quem me apaixonei. Fazia tempo que eu não via isso’. Eu já tinha feito algumas músicas de rock para o projeto, mas não tinha pensado em ser totalmente de rock. Conforme mostrava todas as músicas para amigos, as duas ou três de rock eram as que eles mais gostavam. Quando vi, já estava fazendo um álbum inteiro de rock.”
Mesmo com a trajetória baseada no funk, o cantor aponta que o rock seria a sua “melhor porta de entrada para mostrar” quem realmente é. “Às vezes uma guitarra ou uma bateria bem tocada fala muito mais do que qualquer letra”, diz. Ao mesmo tempo, garante sua dedicação à escrita dos versos, mais focados em sentimentos e espiritualidade do que nos temas festivos — para dizer o mínimo — do gênero que o consagrou. “Eu mantinha guardada essa parte mais crua minha por medo, vergonha, de mostrar essa parte mais instintiva e verdadeira”, afirma.
O reposicionamento de carreira ocorre, também, como reação ao sucesso conquistado nos últimos anos. A participação em “Rave de Favela”, música do duo jamaicano-americano Major Lazer também em parceria com a brasileira Anitta e o jamaicano Beam, resultou em êxito comercial nacional e internacional, mas levou a uma série de questionamentos.
“Passei muito tempo em silêncio. Fui morar nos Estados Unidos logo após ser indicado ao Grammy [Latino de Melhor Canção Urbana em 2020] com a ‘Rave de Favela’. Isso me causou uma pressão muito grande, porque eu não sabia o que fazer depois daquela música. Tipo: ‘Vou ser o Lan da putaria? Ou agora eu sou o Lan pop? Ou agora eu sou o Lan da eletrônica? Quem sou eu agora?’. Em vez de me trazer felicidade, essa música me trouxe medo do próximo passo. Trouxe pressão. ‘Tenho que entregar algo tão grande quanto’… será? Quando voltei a criar músicas, percebi que não queria reproduzir o que as pessoas esperavam de mim. E quando iniciei V3NOM no trap, estava caindo de novo em fazer o que as pessoas queriam de mim.”
MC Lan e o vínculo com o rock
Ao longo da conversa, MC Lan mostra, naturalmente, que não é um ouvinte casual ou aventureiro do rock. Cita nomes consagrados a exemplo de Raimundos, Sepultura, Black Sabbath, Mutantes e Rush, mas também diz apreciar grupos dificilmente mencionados entre “fãs de primeira viagem”, a exemplo de Joelho de Porco, Made in Brazil, Manowar e King Crimson.
Seu apreço pelo gênero começou quando ainda era garoto, por influência de um vizinho que também lhe ensinou a andar de moto e o levou para trabalhar em feira livre. Quando via o amigo com camisetas de bandas como Iron Maiden e Dio, demonstrava interesse. Um dia, ganhou uma camiseta do Manowar, grupo notório por se autodeclarar “true metal” e pela estética que vai do épico ao caricato.
“Adorei a camiseta. Era de uma águia meio musculosa, totalmente psicodélico, diferente. Minha mãe reagiu: ‘que camiseta estranha’. Isso me conquistou, porque olhei e me achei diferente. Comecei a pedir discos e o primeiro também foi do Manowar. Depois, um do Black Sabbath, o Heaven and Hell (1980). Adorei não só pela musicalidade, mas gostava de deixar exposto para as pessoas olharem [a capa, com anjos fumando] e estranharem, pensarem que eu estava virando adulto.”
Lan também se declara apaixonado por rock progressivo, a ponto de sentir-se até “preso” no universo épico das longas composições de nomes como Yes e King Crimson. Todavia, sua primeira paixão real no segmento — “de olhar e querer ser igual” — foi o Guns N’ Roses.
“Acho que eu ouvia mais Guns N’ Roses naquela época do que hoje em dia, mas acredito que tudo isso tenha iniciado toda a minha jornada, de gostar muito, de querer entender por que aquele solo é daquele jeito. V3NOM é um complemento dessa iniciação.”
Participações de V3NOM
A citada colaboração de John Dolmayan não foi a única em V3NOM. MC Lan convidou outros artistas, brasileiros e gringos, a exemplo do baixista chileno Ra Díaz (Korn / Suicidal Tendencies), o rapper sueco Bladee, o também rapper americano Pink Siifu, o produtor Twisco (The Weeknd, Kanye West, Playboy Carti) e, claro, o paulistano Criolo.
A amizade com o baterista do System of a Down, segundo Lan, é “muito grande”. Nasceu, curiosamente, de um momento em que o (ex?) funkeiro sentiu-se desafiado por seus amigos durante uma brincadeira.
“Estava com uns amigos em casa, ouvindo System of a Down, e falei: ‘vou fazer uma música com esses caras’. Todo mundo começou a dar risada, o que me deu motivação. Virou um desafio. Achei que seria muito mais difícil, pois a conversa em si, a energia, bateu de início. No começo, eu não o chamei para participar. Só segui o perfil dele, falei que gostava muito do trabalho e que um dia queria poder trabalhar com eles. No mesmo dia, ele falou: ‘vou te seguir aqui também, vai ser uma honra’.”
Dolmayan colaborou com “Robocop”, faixa de abertura de V3NOM registrada também com Criolo, após receber orientação para oferecer “uma bateria com peso, identidade e energia de ritual”. O integrante do SOAD ainda marcou presença em outras duas canções não incluídas neste primeiro volume.
Já a ideia de trazer Criolo surgiu por acaso. Segundo Lan, a primeira versão de “Robocop” contava com uma linha vocal extraída de “Sucrilhos”, canção lançada pelo rapper em 2011. “Coloquei brincando em estúdio, não era para ter de verdade, mas o pessoal começou a pirar, achando que eu havia feito uma música mesmo com ele”. Não muito tempo depois, o próprio artista atendeu ao convite para ir ao estúdio e ajudou a conferir uma pegada “bem Beastie Boys, Limp Bizkit” pensada originalmente para a faixa.
Por sua vez, Ra Díaz entrou na história devido à admiração que Lan sente por baixistas de um modo geral — especialmente pelo trabalho do convidado no Suicidal Tendencies. “A música que ele participa não é nu metal. Mistura punk com energia de metal. Acho que ele gostou dessa mistura e acho que ele elevou a sonoridade para um lugar muito mais sombrio, mas ao mesmo tempo vivo, do que eu tinha pensado”, disse, também adiantando: Fieldy, membro original do Korn a quem Díaz substitui, pode estar no volume 2 de V3NOM.
MC Lan ainda antecipa outros dois nomes com quem gravou durante o processo: Steel Panther e Escape the Fate. Tais colaborações podem entrar nos próximos volumes do projeto. A ideia é que a segunda parte seja lançada ano que vem e a terceira, em 2027. “Talvez cada ano seja o ano de um álbum diferente, mas não sei o que o destino pode me reservar”, revelou o artista, ainda pontuando o conceito: o primeiro V3NOM é como o “nascimento”, “barulhento e caótico”; o sucessor representa a “vida”, dos “momentos de silêncio aos de euforia”; e o último simboliza a “morte”, com foco na “calmaria” e “compreensão da maturidade”.
*O primeiro volume de V3NOM, Eclipse, de MC Lan, está disponível nas plataformas de streaming. Veja capa e tracklist completo a seguir.
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1. ROBOCOP (com Criolo e John Dolmayan)
2. SCORPION (com Twin Pumpkin)
3. OZ (com Ra Díaz)
4. DARTH VADER
5. V DE VINGANÇA (com Twin Pumpkin)
6. REDLASER
7. EVIL LONDRES
8. HIGHWAY
9. RUNAS
10. OPEN
11. 4 MIL MINUTOS
12. ZATMENIE
13. DARK MATTER (com Bladee)
14. X LIGHT MATTER
15. ØPHELIAS II (com Bladee)
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