Vocalista celebra álbum com homenagens de Slash e Def Leppard, conta por que não foi à cerimônia do Rock Hall e relembra o saudoso Mick Ralphs
O post Paul Rodgers fala à RS sobre tributo ao Bad Company, Hall of Fame, saúde e futuro apareceu primeiro em Rolling Stone Brasil.
Um dos primeiros supergrupos — tipo de banda com integrantes já famosos por outros projetos — da história do rock, o Bad Company ganhou uma homenagem de respeito. O álbum-tributo Can’t Get Enough: A Tribute to Bad Company, disponível no streaming e também em CD no Brasil pela Hellion Records, traz artistas e bandas de diferentes gerações — incluindo ícones como Slash e membros do Def Leppard — reinterpretando as canções do quarteto formado por Paul Rodgers (voz), Simon Kirke (bateria), Mick Ralphs (guitarra) e Boz Burrell (baixo), os dois últimos já falecidos.
Antes, uma válida contextualização: o Bad Company foi uma das bandas mais populares da década de 1970. Foram o primeiro nome a assinar contrato com a gravadora do Led Zeppelin, Swan Song, e emplacaram seus três primeiros álbuns — Bad Company (1974), Straight Shooter (1975) e Run with the Pack (1976) — no top 5 das paradas dos EUA e Reino Unido. Venderam mais de 40 milhões de discos mundialmente.
Talvez o trabalho de legado de sua obra tenha estado abandonado nos últimos tempos, mas o álbum-tributo é o primeiro passo de uma retomada envolvendo a Primary Wave Music, editora musical que adquiriu parte do catálogo de Rodgers. Em entrevista à Rolling Stone Brasil, Paul compartilhou suas impressões a respeito do disco, celebrou a recente entrada do grupo ao Rock and Roll Hall of Fame, abriu o jogo a respeito de seus problemas de saúde e relembrou Ralphs, falecido em junho último após quase uma década acamado.
O álbum-tributo
Como destacado, Can’t Get Enough: A Tribute to Bad Company une artistas e grupos de diferentes gerações para homenagear Paul Rodgers, Simon Kirke, Mick Ralphs e Boz Burrell. Além dos citados Slash e Def Leppard (representado pelas figuras do vocalista Joe Elliott e Phil Collen), há o envolvimento de The Pretty Reckless, Hardy, Halestorm, The Struts, Dirty Honey, Charley Crockett e mais. Dinossauros do rock, bandas jovens, cantores country, entre outros, se juntaram para celebrar o idolatrado quarteto.
Rodgers conta que não tomou decisões relacionadas ao disco — a Primary Wave e o produtor executivo gary Spivak cuidaram da escolha dos artistas e do repertório —, mas participa de três canções: “Shooting Star”, tocada pelo Halestorm; “Run with the Pack”, executada por Blackberry Smoke e Brann Dailor; e “Seagull”, interpretada por Elliott, Collen e Kirke.
“Adorei o fato de terem incluído duas mulheres cantoras neste álbum tributo, e ambas são ótimas vocalistas: Lzzy Hale (Halestorm) e Taylor Momsen (The Pretty Reckless)”, disse Paul, antes de comentar a releitura de “Shooting Star”:
“A voz de Lzzy arrasou e levou ‘Shooting Star’ às alturas. O Halestorm gravou a música em seu estúdio em Nashville, me enviou a faixa e eu gravei meus improvisos vocais — além das partes de violão e guitarra — no estúdio Good Noise de Matt Sorum, em Palm Springs. Conheci Lzzy e a banda quando tocaram em Penticton, perto de onde moro no Canadá. Foram muito respeitosos e receptivos. O novo álbum deles (Everest, 2025) é fantástico.”
A versão para “Run with the Pack”, por sua vez, foi celebrada por trazer um “som de guitarra southern rock”, além dos vocais de Charlie Starr. Já a interpretação de “Seagull” reuniu, ainda que à distância, velhos amigos: Paul adicionou suas partes e enviou para Joe Elliott e Phil Collen, conhecidos de outros carnavais.
“Conheci Joe quando ele foi a um dos nossos shows do Queen + Paul Rodgers na Inglaterra. Gostei dele imediatamente. Ele é um cara legal, um bom cantor e um bom músico. O mesmo vale para o Phil. Que músico! Eu já tinha trabalhado com o Phil uma vez antes, em uma faixa anos atrás; ele compôs uma música chamada ‘Miss You in a Heartbeat’ e eu a lancei em um álbum [o disco homônimo do projeto The Law, 1991]. Esta versão é uma que tocávamos na minha banda solo quando eu tinha o Jason Bonham na bateria. Foi ideia dele incluir a bateria no final de ‘Seagull’. Mas aí Joe e Phil deram o seu toque pessoal, adicionando bateria e guitarras.”
O repórter informa que a versão mais ouvida do álbum no Spotify é a de Charley Crockett, astro country de 41 anos, para a canção “Bad Company”. “Eu não sabia que essa era a versão mais ouvida — que interessante”, reage Paul, antes de emendar: “Acho que é lentinha, no ritmo certo, e tem uma pegada country legal. Gosto muito de música country, em particular de Dolly Parton. Ela é uma compositora e cantora incrível, e a música ‘Jolene’ foi brilhantemente composta e interpretada por ela. Acho que muitas músicas do Bad Company, especialmente as compostas por Mick, têm uma pegada country”.
E quais músicas faltaram? “Estou feliz com o que eles escolheram para este álbum”, diz Rodgers, antes de admitir: “Mas se houvesse espaço para adicionar ‘Simple Man’ e ‘Can’t Get Enough’, seria mais um grande êxito”.
Bad Company no Rock and Roll Hall of Fame
Ao lado de nomes como Soundgarden e The White Stripes, o Bad Company entrou para o Rock and Roll Hall of Fame na cerimônia mais recente, realizada em novembro último nos Estados Unidos. Apenas Simon Kirke compareceu ao evento, pois Paul Rodgers alegou em nota que precisaria “priorizar a saúde”, sem mais informações.
Sabe-se que o cantor, prestes a fazer 76 anos, sofreu três AVCs na última década, mas até então ele não havia explicado o que de fato impediu sua participação. Agora, ele detalha — e busca tranquilizar os fãs — da seguinte forma:
“Cerca de uma semana antes de viajar para os ensaios da cerimônia, minha pressão arterial estava muito alta e comecei a sentir dores no peito e palpitações. Consultei meu médico, que me proibiu terminantemente de entrar em um avião. Ele recomendou que eu ficasse em casa, descansasse e mantivesse a calma. Sinto que escapei por pouco fazendo isso. Estou na fase zen da minha vida e aproveito para estar imerso em uma vida pacífica e tranquila. Posso cantar novamente e me apresentar diariamente para uma plateia de uma pessoa só [nota: referência à esposa, Cynthia].”
Felizmente, Rodgers pôde assistir ao evento pela televisão. Além disso, teve reproduzido nos telões o seu discurso de entrada, algo que a instituição não costuma permitir. Kirke não apenas recebeu a honraria, como também tocou ao lado de Chris Robinson (Black Crowes), Nancy Wilson (Heart), Joe Perry (Aerosmith) e Bryan Adams.
Sobre a cerimônia, Paul disse:
“Minha cunhada preparou um jantar maravilhoso para seis pessoas e assistimos em uma TV enorme. O discurso de Simon me emocionou e deve ter sido emocionante para ele se apresentar sozinho como Bad Company. Às vezes, a realidade bate forte. Gostaria de tocar com ele novamente em algum momento. Achei que todos que se apresentaram – Simon, Bryan Adams, Chris Robinson, Nancy Wilson, Joe Perry, nosso baixista Todd Ronning e Spike Edney, diretor musical e tecladista do Queen por, creio eu, 45 anos – não erraram uma nota sequer. E nosso amigo Mick Fleetwood fez um ótimo trabalho introduzindo a banda.”
Saúde e futuro
Como citado, Paul Rodgers sofreu com sua saúde ao longo da última década. Em 2016, o cantor teve um problema cardíaco que demandou cirurgia. Depois, vieram três AVCs graves — o último há apenas dois anos. O artista conta que, depois do segundo derrame, o artista ficou sem conseguir falar, então “não conseguia cantar, tocar guitarra ou compreender certos aspectos da vida”. “Eu nem sabia o que era uma guitarra”, explica, antes de revelar que doenças cardíacas e derrames são hereditários em sua família.
Entretanto, ao menos por ora, o vocalista garante que sua saúde está boa. “Outro dia, fizemos uma caminhada de 19 quilômetros em busca de um sítio arqueológico com pictografias. Ao me aproximar dos 76 anos, a vida está ótima; cada dia é uma bênção”, diz.
A empolgação com o bom estado atual é tamanha que Rodgers se empolga ao compartilhar os planos futuros. O principal deles é uma autobiografia, desenvolvida há um ano junto do escritor Chris Epting, a partir de conversas semanais por videoconferência. A obra deve ser lançada ainda em 2026 — e no fim do mesmo ano, começam os preparativos para um documentário.
Sobre o livro, Paul declara, com menção a parceiros de outros projetos como Free e The Firm:
“Precisei ser convencido a escrever minhas memórias, pois não sentia que minha história fosse única ou especial; ainda me vejo apenas como um rapaz de Middlesbrough, Inglaterra, que teve muita sorte. Alguns dias depois das conversas, eu ficava sentado em silêncio pensando: ‘Nossa, isso realmente aconteceu?’. Pense em alguns dos grandes guitarristas com quem toquei: Jimmy Page [no The Firm], Paul Kossoff [no Free], Mick Ralphs, Brian May [no Queen + Paul Rodgers], Jeff Beck, Joe Bonamassa… quanta sorte eu tenho! Refleti que foi uma aventura única e mágica, e é algo que eu quero compartilhar. Espero inspirar não apenas músicos, mas pessoas que possam aprender algo com a minha história.”
Essas e outras iniciativas atuais da carreira de Paul têm ligação com a Primary Wave. Para o vocalista, é fundamental trabalhar na manutenção do legado de sua obra — exemplo aprendido com o Queen, banda com a qual colaborou entre 2004 e 2009. “Uma das coisas que eu vi Jim Beach, o eterno empresário do Queen, fazer repetidamente para construir e manter a popularidade da banda foi sempre ter material disponível”, destacou.
E quanto a voltar aos palcos? Rodgers não faz um set completo há 6 anos e não se apresenta nem como convidado desde 2023, mas deve romper este hiato com uma breve participação na premiação Sound and Vision Awards, no próximo dia 2 de março, em Palm Springs, nos Estados Unidos. O cantor será homenageado junto a Geezer Butler (Black Sabbath) e planeja executar “uma ou duas músicas” em dueto com Deborah Bonham, irmã de John Bonham (Led Zeppelin). Não parando por aí, ele conta:
“Recentemente, gravei a música ‘The Night Life’ com Joe Bonamassa em um álbum tributo a B.B. King [lançamento em 6 de fevereiro]. Também gravei uma faixa com Matt Sorum, ex-baterista do Guns N’ Roses, e o guitarrista Billy Duffy, do The Cult. Lançaremos em algum momento. Continuo compondo, cantando, tocando e gravando conforme a inspiração me leva.”
A lembrança de Mick Ralphs
Mick Ralphs morreu em junho, antes de testemunhar o lançamento do álbum-tributo e a homenagem no Rock and Roll Hall of Fame. No entanto, o guitarrista pôde ouvir o disco e celebrar a notícia da entrada para a instituição, compartilhada em abril. Paul Rodgers, que manteve contato com o guitarrista até dois dias antes de seu falecimento, revelou as reações do músico:
“Quando liguei para Mick e contei que entraremos para o Hall of Fame, ele disse: ‘Brilhante, fantástico, estou radiante e já era hora!’. Mais tarde, conversando com Simon, Mick disse brincando: ‘Isso significa que vamos ganhar cachorro-quente de graça?’. Esse era o senso de humor do Mick. Quanto ao álbum tributo, mostrei algumas faixas e ele apreciou o fato de os músicos terem tocado com tanto respeito e trazido sua própria criatividade.”
Rodgers ainda aproveita um momento da conversa para compartilhar os desafios de saúde enfrentados por Ralphs na última década de vida.
“Mick era um músico único, um compositor único e um homem único. Eu amava tudo nele e seu senso de humor o acompanhou até o fim. Não sei se muitos fãs sabem disso, mas Mick passou os últimos 8 anos e 9 meses de sua vida na cama, sem conseguir andar ou usar as mãos; não era vida. Ele sofreu um AVC grave e tentamos levá-lo à oxigenoterapia hiperbárica, tentamos conseguir que acupunturistas e reflexologistas o atendessem, mas infelizmente encontramos resistência. Como não éramos da família, não tínhamos controle sobre seu tratamento médico. Consegui contratar um advogado e transferi-lo para uma casa em Henley, onde moram a maioria de seus amigos e seu grande amor. Além disso, era mais adequada às necessidades do Mick.”
Embora Paul não ache que o Bad Company seja subestimado — “fico surpreso apenas quando músicos vêm a público e dizem que foram influenciados pelo Bad Company ou Free” —, os elogios não são poupados ao relembrar o parceiro guitarrista. Ele afirma:
“Eu falava com ele frequentemente e, na verdade, a última conversa que tive com ele foi apenas dois dias antes de sua morte. Naquele momento, ele já não conseguia falar, mas consegui fazê-lo rir uma última vez. Mick era um daqueles raros guitarristas que você consegue identificar pelo som em apenas três notas; você sabe que é o Mick Ralphs. Seu timbre era tão rico e encorpado. Ele deixa um grande legado em sua música, seu humor e na maneira como tratava os outros.”
*Can’t Get Enough: A Tribute to Bad Company está disponível nas plataformas digitais e também em CD físico na loja Hellion Records. Veja abaixo o tracklist.
1. “Ready For Love” – HARDY
2. “Shooting Star” – Halestorm (com Paul Rodgers)
3. “Feel Like Makin’ Love” – Slash Featuring Myles Kennedy and The Conspirators
4. “Run with the Pack” – Blackberry Smoke (com Paul Rodgers & Brann Dailor)
5. “Rock ‘n’ Roll Fantasy”– The Struts
6. “Bad Company” – Charley Crockett
7. “Rock Steady” – Dirty Honey
8. “Burnin’ Sky” – Black Stone Cherry
9. “Seagull” – Joe Elliott e Phil Collen do Def Leppard (com Paul Rodgers & Simon Kirke)
10. “All Right Now” – The Pretty Reckless
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