Em seu primeiro acústico, Gabriel o Pensador celebra 33 anos de carreira: ‘Muita energia envolvida’

Escrito em 02/12/2025
Gabriela Nangino (@gabinangino)

Em entrevista à Rolling Stone Brasil, o artista falou sobre a gravação que reúne mais de 10 convidados no dia 3 de dezembro, na Fundação Progresso, no RJ

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Gabriel, O Pensador grava DVD acústico inédito

Nesta quarta, 3 de dezembro, Gabriel o Pensador gravará um DVD acústico pela primeira vez em comemoração aos 33 anos de carreira. O projeto reúne um setlist extenso com cerca de 30 músicas, que mescla clássicos de sua discografia — como “Retrato de um Playboy”, “Racismo é Burrice”, “Cachimbo da Paz” e “Até Quando?” —, raridades pouco apresentadas ao vivo e três faixas inéditas. O lançamento promete emocionar desde os fãs de carteirinha até os recém-chegados no universo do Pensador.

Em entrevista à Rolling Stone Brasil, Gabriel revisitou sua trajetória no mundo do rap e conversou sobre algumas das canções que podem integrar o show do dia 3. Confira, a seguir, os destaques dessa noite tão aguardada, e descubra como o artista chegou até aqui.

O primeiro acústico

Em mais de três décadas de trajetória, esta é a primeira vez na qual Gabriel aposta no formato acústico. A proposta é construir uma atmosfera mais intimista do que suas apresentações convencionais, mas o artista garante que o clima ainda é de festa. “São novas versões das músicas, a gente fez arranjos novos, detalhes bonitos — algumas músicas a gente criou mudanças de harmonia, sopro, coisas que a gente se empolga até no ensaio e emocionam diferente”, diz.

Apesar da pegada acústica, a energia do show se mantém a mesma. “Eu tenho uma postura de palco que não é suave, não é sentado, então não vai ser assim. Tem um momento que a gente tá chamando de ‘super acústico’, que a gente senta e faz quatro ou cinco músicas, mas no total são trinta músicas, então esse é um detalhe do show”, afirma. “Tem um pouco de beat eletrônico, reforçando algumas músicas, que não quebra a onda do acústico — tem o Papatinho como convidado, e tem o baixo elétrico da Marfa, nossa baixista russa […], porque o baixo é muito importante no rap e no reggae”.

Gravar com plateia presente traz outro tipo de energia. “Para mim é um presente poder fazer um novo álbum de uma maneira tão diferente”, comenta. “Filmar com a plateia e com os convidados é muita energia envolvida, vai ser muito marcante para mim”.

Três décadas de rap

Ao longo da carreira de Gabriel o Pensador, muita coisa mudou no rap, especialmente com a forma como as canções são gravadas. “Era tudo muito difícil quando a gente começou, tinha que ter um estúdio, não existia música digital, a gente tinha que gravar em uma fita, só depois de um tempo surgiram os CDs”, conta.

Em 1992, o cantor escreveu uma de suas canções mais ousadas: “Tô Feliz (Matei o Presidente)“, narrativa fictícia e irônica sobre o assassinato do então presidente Fernando Collor, que expressa a revolta popular diante da corrupção. Produzida de forma modesta, a faixa marcaria para sempre sua carreira. “Eu tinha uma fita cassete, fiz umas cópias, e gravei num estúdio pequeno cedido por conhecidos […]. Eu tinha que mandar pelo correio a fita para um cara que eu sabia que tinha uma rádio.”

Segundo ele, uma emissora do Rio de Janeiro tocou a música pela primeira vez: “Eles acharam a música muito louca e foram corajosos de botar aquilo no ar.” Cinco dias depois, a canção foi censurada. “Até para mostrar que isso tinha acontecido era difícil, não tinha como postar na internet, tinha que bater na porta [dos jornais] para fazer uma matéria para mostrar que ela fui censurada.”

Os anos 1990 foram um período de expansão e diversificação para o rap, reconhecido internacionalmente como a “Era de Ouro” do gênero — criativamente falando. Durante esta década, o rap solidificou-se como uma força cultural e viu o surgimento de vários subgêneros e beats diferentes. Seu álbum de estreia homônimo, Gabriel o Pensador, foi lançado em 1993, e logo se tornou um grande sucesso.

“O rap já era uma música bem versátil, e eu estava muito atento nos meus primeiros discos a linhas que já existiam no rap americano”, comenta. “Eu juntei essas influências com as minhas próprias, do reggae, do Bob Marley, do Peter Tosh, da MPB, do rock brasileiro, e fui criando o meu estilo, sempre brincando com vários tipos de flows e acompanhamentos musicais”.

É legal tentar ser versátil e ser autêntico, não seguir uma linha de um modelo, de um tipo de som, letra ou postura […]. O mais interessante e o mais original é deixar a criatividade o mais livre possível

Temas que atravessam gerações

Desde o início de sua carreira, Gabriel utilizou a música como ferramenta para canalizar críticas sociais, denunciando a desigualdade social no Brasil, o racismo estrutural, a violência policial e a corrupção. Para ele, a arte é uma forma de emancipação, e certos temas se repetem geração após geração e ainda precisam ganhar voz.

“Apesar de todas as mudanças da comunicação, da tecnologia, da ciência, a humanidade ainda tem questões básicas, questões éticas, e infelizmente alguns temas que a gente achava que poderiam ser superados, como o próprio racismo, que a humanidade poderia ter evoluído e aprendido mais”, afirma. “Nas três décadas da minha carreira, muita coisa regrediu, intolerância, egoísmo, arrogância, coisas que lá no primeiro single eu já falava”.

A canção “Palavras Repetidas”, por exemplo, aborda a violência e o desespero presentes na sociedade brasileira. Em homenagem à Legião Urbana, o cantor incorpora o refrão de “Pais e Filhos” — “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã” — para reforçar a urgência da empatia em meio ao caos.

“Eu falo muito da nossa vida valendo nada, e a gente está vendo cada vez mais a imagem disso — na época de Covid-19, achamos que a pandemia iria ensinar o ser humano a ter mais solidariedade, mais compaixão, eu acreditei que parte da humanidade teria uma iluminação”, relata. “Mas não foi bem isso que aconteceu: a gente tem guerras horríveis acontecendo, problemas insolúveis na área da violência, como sempre, e as músicas continuam expressando esse desabafo”.

O rapper também destaca “Mandei Avisar”, parceria com Marcelo Yuka — ícone da música nacional e um dos fundadores da banda O Rappa, que morreu em janeiro de 2019 — lançada no álbum Seja Você Mesmo (mas não Seja Sempre o Mesmo) (2001). “A gente está trazendo de volta essa música para o meu show, que eu fiz com meu querido e saudoso amigo, Marcelo Yuka”, diz. A canção critica o materialismo e valoriza as conexões humanas, e, em apresentação recente, Gabriel viu o impacto da faixa na plateia. “Chegando perto da nossa gravação, eu cantei ela em Maringá, e vi amigos se abraçando com brilho nos olhos […]. É um tema que não vai morrer nunca.”

Para Gabriel, seus trabalhos ganharam novas camadas ao longo dos anos, não apenas para o público, mas também para ele próprio. A subjetividade da interpretação é o que transforma uma mesma canção em inúmeras histórias diferentes. “Tem tanta história que as pessoas trazem! […] A música não é tanto um retrato de uma coisa momentânea, ela é uma coisa maior do que o que a gente imagina, às vezes, até quando está escrevendo.”

Gabriel, O Pensador
Gravação do novo DVD ocorre nesta quarta, 3 de dezembro (Foto: Divulgação)

Colaborações e reencontros

Para o novo DVD, Gabriel reúne mais de dez convidados no palco, entre eles Mano Brown, Lulu Santos, Xamã e Armandinho. “O Armandinho é um parceiro que eu já conhecia há muito tempo”, conta. Juntos, eles lançaram “Liberdade” no álbum de 2023, Antídoto pra Todo Tipo de Veneno. A faixa mescla rap e reggae. “Eu sempre tentei e consegui abrir muitas portas para o rap, a minha vontade é mostrar o rap para um público além do nicho do hip hop”, comenta.

Com Lulu Santos, a história também é antiga: eles gravaram “Cachimbo da Paz” em 1997, “Assaltar na Gramática” em 2001 e a sequência “Cachimbo da Paz 2” em 2023, com Xamã. “Sempre fizemos muitos shows e parcerias no palco, eu também participei do acústico do Lulu Santos com “Astronauta“. Sempre aprendi muito com a maneira como ele ensaia, como ele trata tudo isso; ele não perde espontaneidade e o prazer, mas é um artista muito profissional e perfeccionista”, elogia Gabriel.

Cachimbo da Paz 2” venceu o Grammy Latino de Melhor Interpretação Urbana em Língua Portuguesa em 2024. “Foi uma alegria muito grande porque coroou esse esforço do álbum, de tudo que a gente vinha fazendo da manutenção da carreira, que não é fácil — a pandemia deixou todo mundo sem trabalho, e na volta da pandemia todo mundo se reencontrou e se reinventou.”

Negra Li também está confirmada na colaboração, em uma proposta diferente. “Ela é pioneira também do rap, mas dessa vez a gente vai surpreender a galera: ela não vai fazer rap, ela veio para cantar mesmo”. Gabriel também trará ao palco Ventania, cantor e compositor inspirado no movimento hippie que mescla MPB, rock e reggae. “Ele é um cara que tem muita vivência e muita alegria, muita vibe positiva”.

Outros convidados são o DJ e produtor musical Papatinho, fundador do ConeCrewDiretoria, e o irmão de Gabriel, Tiago Mocotó, também músico. “Vai ter esse clima mesmo de celebração, até com os próprios fãs! Tem uma galera que me acompanha há mais tempo, e tem a garotada nova, eu vou vendo esse termômetro todo da molecada que chega e fico muito animado”.

A banda de Gabriel também ganhou novos integrantes recentemente e está sob direção de Maurício Pacheco. Para o rapper, o momento simboliza o fechamento de um ciclo. “A gente vai celebrar não só a minha carreira pessoal, mas também o que a gente criou nesses ensaios, tudo o que a gente viveu com a banda na última turnê, com essa amizade que nasceu”, comenta. “Eu sou muito do improviso, de criar na hora, e cada um de nós aprende com a loucura do outro.”

Como eu falo na letra de ‘Profecia’, até hoje quando eu faço rap meu braço arrepia. Eu me emociono, curto de verdade. Saber que a minha música tem uma sementinha que planta algumas coisas boas na cabeça das pessoas, que tem um propósito, é melhor ainda. Eu acredito que a arte e a cultura podem abrir um pouco as nossas mentes, sair da massificação do pensamento e da alienação sempre foi um tema recorrente no meu trabalho. A gente vê ainda muita cegueira, e é uma coisa que precisa ser combatida em todos os aspectos — não só pela polarização política, ódio e preconceitos, mas até por você mesmo, que fica ali perdendo tempo vendo besteira na internet. A arte, às vezes, vem para dar uma sacudida […]. Quando a gente vai fazer um show ou assistir a um show é um ritual, é quase uma oração: eu acredito na importância disso tudo, e fazer parte disso tudo é um privilégio.

As vendas para a gravação do DVD GABRIEL O PENSADOR: ACÚSTICO 33 ANOS ainda estão abertas! Garanta o seu ingresso no site: https://ingresse.com/33-anos-acustico-gabriel-o-pensador-gravacao-dvd/

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